Algumas bandas parecem não se contentar em seguir padrões e vão além do “normal”. Posso garantir que The Flaming Lips é uma delas. Dá a impressão que cada mínima coisa que eles fazem passa por um processo criativo maluco! Imagina um álbum experimental com 4 CDs, chamado Zaireeka, todos com as mesmas músicas, mas em cada CD foi gravada apenas uma faixa estéreo das músicas, e você pode tocar todos os CDs ao mesmo tempo (em aparelhos de som separados), ou mistura-los da forma que preferir, combinando 1, 2 ou 3 discos! Do modo que for, o resultado é harmônico. Eles também piram nos nomes e letras das músicas, capas e nomes de discos, visual, e nos shows, que são demais!
Tive a oportunidade de assistir dois shows do The Flaming Lips no Japão. O primeiro foi no Club Quattro, em Nagoya, mas não me lembro bem em que ano, talvez em 2000 ou pouco depois. A casa é pequena, dentro de um shopping vertical e lota com poucas centenas de pessoas. Logo que a banda entrou no palco, Wayne Coyne, o vocalista, anunciou que o baterista Steven Drozd não tinha ido com a banda! Todos ficaram apreensivos, pois afinal a gente queria ver a banda inteira tocando… Mas Wayne continuo dizendo que não ia nos desapontar, e que tinha feito um vídeo com Steven tocando bateria, que ia ser passado num telão atrás do palco, e assim foi feito! A banda ao vivo seguia a bateria do vídeo, e num dado momento, Wayne se virou para o telão e perguntou se estava tudo bem com Steven, e ele respondeu que sim, mandou um abraço para a plateia e fez um solo de bateria. Eu até pensei que aquilo era uma transmissão ao vivo, mas não era! Na verdade fizeram um roteiro para que o vídeo parecesse ao vivo! Preocupações em agradar os fãs!
O show continuou com Wayne cantando “Somewhere Over The Rainbow”, do Mágico de Oz, em dupla com um fantoche em sua mão e depois jogando sangue artificial em seu rosto durante a execução de “Waitin’ For A Superman”. O auge, claro, foi a sessão dos clássicos, como “Turn It On”, “She Don’t Use Jelly” e “Bad Days”.
O segundo show foi no Summer Sonic em Osaka, no ano de 2006 (esse eu me lembro bem da data!). O festival é feito no verão, claro, que no Japão tem dias que passa dos 40 graus! Nessa edição foram 9 palcos, 2 dias e 2 cidades, Osaka e Tokyo, com shows do Metallica, Deftones, Hoobastank (o vocalista é americano descendente de japoneses e levou sua avó japonesa para ver o show e passear no seu país natal, e apresentou a velhinha no palco), Avenged Sevenfold, Daft Punk (em sua cabine de som com formato de pirâmide), The Charlatans, Keane (que cancelou o show), The Cardigans, Linkin Park, Muse, My Chemical Romance, Massive Attack, Arctic Monkeys, The Kooks, e muitas outras.
O show do Flaming Lips começou por volta das 20:00, um horário em que todo mundo já estava bem cansado, porque a abertura do festival foi de manhã, o calor estava muito forte, era um show atrás do outro, correria para ir de um palco para outro, muita gente… Mas então as cortinas do palco se abriram! Lá estavam os Flaming Lips, desta vez com o baterista, dividindo o palco com bonecos gigantes, coro de Papais-Noéis e duendes, grandes bolas azuis dependuradas no teto… Um cenário surreal que fez o público cansado (incluindo eu, minha esposa e um casal de amigos) se sentir reconfortado.
Wayne Coyne é um mestre do entretenimento, e sabe agradar o público. Para começar, ele estava dentro de uma bolha plástica enorme, e foi “andando” por cima da plateia! Depois, de volta ao palco e fora da bolha, sabendo que Keane tinha furado sua apresentação, ele mandou um cover de “Somewhere Only We Know” para delírio dos fãs. Agradeceu aos japoneses convidarem a banda para tocar no Japão pelo menos uma vez por ano, fez piadas, deu risada, tudo numa intimidade total com o público. E assim continuou o show. Soltaram as grandes bolas presas no teto, tinha canhões de serpentina e confete, o palco uma loucura onde apareceu até um Capitão América, e as músicas dando o ritmo perfeito para uma curtição que nunca deveria acabar! Na hora de tocar “The Yeah Yeah Yeah Song”, quem estava cansado agora pulava de novo, arremessando as grandes bolas, gritando YEAH- YEAH- YEAH ou NO-NO-NO, com as brincadeiras de Wayne.
Fica uma dica: se você tiver a oportunidade de ir a um show do Flaming Lips, vá e me chame, beleza?
Veja dois vídeos do Flaming Lips no Summer Sonic 2006.
The Yeah Yeah Yeah Song (Live at Summer Sonic 2006 in Tokyo)
Wayne Coyne Inside Bubble at Summer Sonic 2006 in Osaka
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