Alguns consideram o Rock apenas como um tipo de música, para quem curte é um estilo de vida, e para outros é coisa do diabo!
Então vamos lá! Este post diz respeito a uma coincidência que aconteceu comigo sobre duas pessoas que afirmaram categoricamente que Rock é coisa do diabo! Acontece que por volta de 1.988, quando eu tinha uns 14 anos, estava eu ajudando meu pai a lavar o carro na rua, em frente nossa casa. E como sempre, eu peguei uma fita cassete para a gente ouvir. No dia acho que a gente estava ouvindo New Order, se não me engano, quando passou um professor da minha escola e ele disse: “Você fica aí ouvindo esses Rocks mas o cara que tá cantando tá na verdade é xingando você.” Imagina o que esse professor diz hoje quando passa por alguém que está ouvindo o tal funk carioca… Mas meu pai saiu em minha defesa e disse “Fica tranquilo que o moleque sabe falar inglês.” E para não perder a briga o tal professor soltou a pérola: “Que seja, mas Rock é música do diabo!”
E a coincidência foi que eu estava passeando em uma praça com a minha filha que tem 4 anos. A pequena pegou meu celular e colocou AC/DC para tocar. É um costume que eu sem querer ensinei pra ela. Bão, na verdade não foi sem querer. A gente sempre ouve Rock juntos e ela gosta de ouvir no meu celular. E não é que uma senhora passa bem na hora e diz que eu não devia deixar minha filha ouvir “essas coisas” porque Rock é coisa do diabo? Por respeito à senhora eu nem respondi.
Mas aí essa coisa ficou na minha cabeça, eu comecei a pensar no assunto e descobri que tanto o professor quanto a senhora da praça estavam certos. Ó só.
Tanto o professor quanto a senhora são pessoas extremamente religiosas (ela estava com a Bíblia na mão…) e que foram criadas, assim como muitos de nós, com o conceito de que qualquer coisa que nos tira do rumo “moral” é do demo! E o que o Rock faz? Com toda certeza ele nos tira desse rumo “moral”, abre a nossa mente, nos faz ter um pensamento mais crítico e analítico talvez, nos faz pensar um pouco além do trivial. Assim como as “bruxas” que eram perseguidas e mortas na santa inquisição por serem consideradas filhas do demônio, quando na verdade eram mulheres que saiam do trivial, elas saiam do rumo que a igreja queria que toda a população seguisse, e as tais bruxas buscavam ajudar pessoas, sabiam lidar com ervas medicinais, acredito até que elas tinham uma visão mais ampla sobre o mundo e, principalmente, elas não aceitavam as imposições da igreja. Por isso foram perseguidas e mortas, e a igreja justificava essa barbárie dizendo que elas eram filhas de Lúcifer, que o conjuravam para acabar com a humanidade.
O exemplo foi forte? É, acho que foi. Mas é bem por aí que a coisa acontece. Imagine nos anos 40 e 50, quando o Rock se firmou entre os jovens norte-americanos, numa época em que os Estados Unidos se valiam da união social por causa do grande desenvolvimento que passavam, e a religião era um dos recursos dessa união. E eis que de repente aparecem negros tocando guitarra num ritmo frenético, jovens brancos curtindo a novidade, danças sensuais, rebolados, sexo, drogas, bebidas… Os conservadores piraram, pensando que iam perder o controle da situação! E com toda certeza! Imagine se Chuck Berry pedisse aos seus milhões de fãs que eles se voltassem contra o “sonho americano”. Ia ser o caos! Então, para barrar um pouco a influência, plantaram a ideia de que o Rock era coisa do capiroto! Simples assim.
E dos anos 50 para cá a coisa piorou. Nos anos 60 veio a participação dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, que foi repudiada pelos hippies com passeatas e manifestações que eram sempre carregadas de canções folk e Rock. Nisso os militares, políticos e religiosos começaram a criticar os hippies, afirmando que os Estados Unidos estavam protegendo sua população e os bons costumes, e que os hippies por serem contra essa ideia eram todos vagabundos, drogados, libertinos, cultuadores de um estilo de vida marginal. Ou seja, tudo o que agrada o chifrudo numa pessoa! O mesmo aconteceu com os punks na Inglaterra, que revoltados com a situação geral do país passaram a atacar a rainha, que era considerada uma divindade. E quem é contra uma divindade só pode ser da trupe do demo!
E então caímos na parte “pesada” dos anos 60/70. Cogumelos, ácido lisérgico, Rock progressivo “viajandão” e bandas que conquistaram os jovens de uma maneira nunca vista antes, como Beatles, Pink Floyd, Velvet Underground, The Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin e tantos outros. Aí, o que fizeram? Ah, se tocar o disco do Led Zeppelin ao contrário você ouve o cramunhão falando! Aqui peço licença para dizer “Puta que pariu”! Se tocar uma gravação da pessoa mais santa do mundo ao contrário, com certeza vai parecer outra língua, dá uma sensação ruim porque nosso cérebro não consegue entender. E só por isso é o bicho ruim falando? Mas beleza. Foi só mais uma tentativa de fazer o Rock parar com sua influência sobre as pessoas.
E como diz o ditado, fez a fama deita na cama. Aparece o Kiss, aliás vocês sabem o que significa Kiss? Sim, é beijo, mas também é a sigla para Knights In Service of Satan, ou os Cavaleiros a Serviço de Satã! Nem preciso falar mais nada! Mas aí já era uma outra realidade, acho que o mundo estava mais aberto para diferenças, e os grandes líderes não se viram tanto em perigo por causa de uma banda de Rock, e em pouco tempo a banda se tornou querida no mundo inteiro. A ideia de que o Rock é coisa do anticristo perdeu a força, hoje temos bandas realmente voltadas para o “lado negro”, mas para muitos Satanás ainda é o responsável por toda essa “atrocidade musical”.
Então, senhora da praça e professor, vocês têm toda razão! O diabo é o pai do Rock e foi ele mesmo que me deu o toque!
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